sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Niteroi-RJ > MAC de Niterói lança “Artistas Brasileiros – Monografias de Bolso” e homenageia quatro nomes de peso da arte contemporânea do país

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Hora do Brasil







Anna Bella Geiger, Ivan Serpa, Jorge Guinle e Raymundo Colares terão sua trajetória retratada nos livros, que contam também com imagens das obras

Olha que legal! O MAC de Niterói, cujo Diretor é o Guilherme Vergara, vai homenagear quatro importantes artistas brasileiros, com atuações marcantes, principalmente da década de 50 a 80. São eles: Anna Bella Geiger (que continua com forte atuação até os dias de hoje), Ivan Serpa, Jorge Guinle e Raymundo Colares. São os livros "Artistas Brasileiros - Monografias de Bolso", cujo lançamento será, no MAC, no dia 24 de setembro (terça-feira), às 18h. As publicações (uma para cada artista) foram escritas por Guilherme Bueno, Gabriela Motta, Tatiana Martins e Guy Amado. Patrocinados pelo edital de Artes Visuais lançado em agosto de 2011 pela Secretaria de Estado de Cultura, os novos livros da coleção ficarão disponíveis para download no site do museu. 


O Museu de Arte Contemporânea de Niterói (Mirante da Boa Viagem s/ número – Niterói), que tem a frente o diretor Guilherme Vergara, dá prosseguimento aos seus projetos culturais de 2013 e lança, em 24 de setembro (terça), às 18h, no Salão Central, a nova edição de Artistas Brasileiros – Monografias de Bolso. Segundo Vergara “É importante continuarmos investindo neste projeto, realizando outras edições”.
Desde 2000, o MAC publica pequenos catálogos dedicados às suas exposições. Resolvemos dar continuidade a esta experiência, criando uma coleção exclusivamente focada nos artistas do acervo do museu e da coleção de João Satamini”, explica o historiador e crítico de arte Guilherme Bueno, que coordenou todo o trabalho de pesquisa.
Patrocinados pelo edital de Artes Visuais lançado em agosto de 2011 pela Secretaria de Estado de Cultura, os novos livros da coleção destacarão o trabalho de quatro nomes marcantes na cena carioca entre os anos 50 e 80: Anna Bella Geiger (a única artista viva e que continua com forte atuação no cenário das artes visuais, realizando exposições no Brasil e no exterior), Ivan Serpa, Jorge Guinle e Raymundo Colares. Os volumes foram escritos por Guilherme Bueno, Gabriela Motta, Tatiana Martins e Guy Amado, respectivamente. “Convidamos novos críticos para escrever textos inéditos e acrescentar referências para pesquisa. Assim como rotineiramente o museu apoia o surgimento de novos artistas, acreditamos que esta iniciativa possa contribuir para o surgimento de uma nova geração de pensadores”, destaca Bueno.
Até o momento, a coleção já homenageou mais de uma dezena de artistas, entre eles Antonio Dias, Rubens Gerchman, Ione Saldanha, Aluísio Carvão, Hermelindo Fiaminghi, Emmanuel Nassar, Carlos Zilio e Wanda Pimentel. Assim como ocorreu em outras edições, todos os volumes desta nova safra de livros serão doados a diferentes instituições no Brasil voltadas para ensino e pesquisa na área de Artes. Além disso, as novas publicações ficarão disponíveis para download no site do MAC de Niterói, a exemplo do que foi feito com os livros lançados em 2010. Vale ressaltar que todo conteúdo dos livros se encontra em português e em inglês, o que reforça o comprometimento do museu com a difusão da arte brasileira tanto em âmbito nacional como no exterior.
Um pouco mais sobre os artistas homenageados
Anna Bella Geiger (por Guilherme Bueno):
A obra de Anna Bella Geiger conta, há pelo menos três décadas, com o reconhecimento de seu papel imprescindível e, poderíamos acrescentar, único dentro da arte contemporânea brasileira. A artista inicia sua trajetória na década de 1950, explorando elementos derivados do expressionismo e das investidas pós-cubistas, ainda vacilantes entre figuração e abstração (o que, em certa medida, vinha de sua formação com a gravadora Fayga Ostrower). A partir dessa fronteira com a abstração, Anna Bella acentua uma posição independente daqueles três modelos que predominavam no meio artístico brasileiro então: as frentes antagônicas do concretismo (e, depois, neoconcretismo) e do informalismo e uma última remanescente da geração modernista dos anos 1930 e 1940, ainda tributária da Escola de Paris. Este quadro, mesmo sintético, evidencia, portanto, que sua obra convive, desde o início, com um cenário no qual o entendimento do que seria arte mostrou-se instável, em contínua transformação – algo testemunhável desde a emergência da modernidade.
O caso de Anna Bella, se não é exclusivo na história da arte brasileira, é indiscutivelmente significativo para nos atentar para a complexidade de nossa mudança de uma cena moderna para outra contemporânea fora daquelas frentes tidas como hegemônicas. E, igualmente, para ampliar o horizonte a partir do qual se traçam os percursos da arte contemporânea brasileira. Constata-se, em seu trabalho, esta particularidade de abranger desde as investidas herdadas da primeira metade do século XX, passando por situações diferentes de pós-modernidade: uma primeira ainda quase edipianamente vinculada (mesmo que por negação) ao declínio de nossa primeira leva de arte abstrata, passando por aquela outra na qual a urgência solicita um comprometimento político e iconoclasta, chegando, se nos é permitido o termo, a uma contemporaneidade ‘madura’, dito de outra maneira, a um pertencimento integral e emancipado ao território que identificamos como absolutamente contemporâneo, não mais indexado a desconstruir os dilemas modernistas.  

Ivan Serpa (por Gabriela Motta):
Ivan Serpa (1923-1973) viveu pouco, 50 anos, mas marcou definitivamente a arte brasileira. Ele não só produziu intensamente durante 25 anos, como também participou das principais exposições e dos movimentos incontornáveis desse período. Já na primeira Bienal Internacional de Arte de São Paulo, em 1951, recebeu o prêmio de Aquisição Jovem Pintor. Esta não foi a única láurea: Max Bill, o grande vencedor daquela bienal com a obra ícone Unidade Tripartida e um dos principais nomes da arte concreta, visitou o atelier de Serpa em sua passagem pelo país. Nada que tenha impressionado Ivan mais do que seu contato com os artistas do Engenho de Dentro, grupo de internos do Hospital Psiquiátrico Pedro II, coordenado pela Dra. Nise da Silveira. É assim, entre as referências de um suíço e de artistas mais que diletantes, que a obra de Ivan pede para ser vista. “Eu só posso pintar o que sinto”, dizia o artista, um dos principais nomes do que se entende por arte concreta. Não há contradição alguma entre a afirmação de Serpa e toda sua produção plástica. Esta frase, dita por Ivan quando questionado sobre a iminência figurativa em suas telas, se aplica ao conjunto de sua obra.

Vera Siqueira afirma, inclusive, que ‘mesmo em sua fase concretista, Serpa não busca uma estratégia formal única e sim uma simplificação da linguagem que não lhe retire o sentido de poesia e espontaneidade’. Essa poesia e espontaneidade, que ele via especialmente na arte de esquizofrênicos e de crianças, é algo aparente em outra faceta do artista: a do professor. Durante quase duas décadas, Serpa deu aulas de pintura para crianças e adultos no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, ensinando sempre seus alunos a encontrarem suas próprias respostas. Foi ele inclusive que, em 1951, criou o primeiro curso livre de arte desse museu, ainda na sede provisória da instituição. A biografia de Serpa permeia o entendimento da sua obra e é constante a referência de que Ivan produzia de portas abertas, rádio ligado, filhos passando, esposa, alunos e amigos circulando pelo seu atelier. Todos esses homens – artista, pai, professor, esposo, cidadão – estavam atrás das telas e das ideias, infligindo rigor nas suas obras mais expressivas e sentimento e cadência naquelas mais estruturadas na forma.



Jorge Guinle (por Tatiana Martins):

Jorge Guinle Filho escolhe fazer do ato de pintar – em todas suas implicações – sua vida. Pintor que descobre primeiramente relação íntima e privada com seu ofício para, em seguida, compreender o pintar numa dimensão pública. No final da década de 1970, já é visível a via combativa da arte brasileira em consonância com os ‘anos de chumbo’ vividos em nossa política e sociedade. Em arte, articula-se alguma multiplicidade, mas oscilando linearmente entre os seguintes modos: experimentalismo-conceitualismos e as várias inserções das imagens – de abstratas a índices, de caráter fragmentário a mensagem. Os artistas da década de 1970 que conseguem pulverizar um circuito fechado, o fazem mediante táticas de combate. Assim, cabe combinação entre trabalho mental e espontaneidade para a recondução do objeto artístico, apto então a transitar por outros discursos e elaborar outros procedimentos. Nos anos 1980, pode-se afiançar pouca mudança em relação ao circuito artístico brasileiro: os artistas se deparam com sistemas pouco consolidados. Mas, não há como desconsiderar os indícios da consolidação do meio artístico ainda que levados por esforços individuais ou instituições precariamente idealizadas. O experimentalismo dos anos 1970 traz, por um lado, a diluição da noção tradicional de objeto de arte, por outro, evidencia certo hermetismo, característico dos traços conceituais das linguagens poéticas. A produção de Jorge Guinle assume a positividade do encontro (feliz) entre sua experiência com a pintura e as poéticas que se articulam a partir de um campo híbrido de arte. Levando-se em consideração, então, a heterogeneidade das linguagens artísticas – que simula e pratica o retorno à pintura nos anos 1980 –, pergunta- -se pelo lugar da pintura de Jorge Guinle. Na contemporaneidade, que se esboça entre nós desde o neoconcretismo, a virada para a década de 1980 destaca notas mais pungentes: arte e dimensão pública. E, nesta situação, entre o forte desejo pela pintura e o trânsito por diferentes circuitos artísticos – presente desde a infância do artista vivida entre Paris e Nova York – e os nossos conceitualismo e experimentalismo, Jorge Guinle opta por ser pintor.




Raymundo Colares (por Guy Amado):

A questão é que, num cenário opressivo como o daqueles tempos, marcado pelos ditames do regime militar, alusões ao referencial norte-americano – ainda que se tratando em última análise de uma produção de viés crítico, como era a arte Pop – despertavam forte resistência no meio artístico e cultural como um todo. É nesse contexto que Raymundo Colares surge como um discreto bólide no meio artístico brasileiro, promovendo com sua produção singular um verdadeiro curto-circuito de influências e filiações estilísticas pouco ortodoxas, aliadas a um apurado senso compositivo e a uma extrema originalidade. Pode-se dizer que sua fatura tangenciava a problemática acima comentada, em suas feições pop-construtivas de inspiração urbana, ritmos dinâmicos e cromatismo industrial intenso. Oriundo da pequena Montes Claros (MG), instala-se no Rio de Janeiro em 1965, onde vem para estudar Arte, dando vazão à vocação recém-confirmada, após desistir de cursar Engenharia Civil. Entre uma passagem pela Escola Nacional de Belas Artes e a frequência ao prestigiado curso livre de Ivan Serpa no MAM-RJ, faz amizade, dentre outros, com Antonio Dias e Hélio Oiticica e assimila os encantos – e, posteriormente, os desencantos – do mundo de possibilidades oferecido pela metrópole, destacando-se com rapidez no cenário carioca e nacional. É uma trajetória meteórica: no curto espaço de quatro anos (1967-1970), o recém-chegado à cidade grande participa de uma dúzia de exposições, dentre salões e galerias, tendo sua primeira mostra individual realizada em 1969; ganha ainda diversos prêmios no mesmo período, sendo os dois últimos4 decisivos para sua opção de viver cerca de dois anos no exterior (EUA e Itália), em 1971-73. A experiência intensa da urbanidade, com suas velocidades múltiplas e ritmos visuais próprios, será decisiva na eleição de seu objeto-chave na atividade pictórica: o ônibus. É a partir do fascínio que desenvolve pelas carrocerias metálicas prateadas e coloridas em trânsito, tão presentes em seu cotidiano, que Colares irá estabelecer aquele que será seu leitmotiv, sua produção mais característica e principal corpo de obras. Interessa-se obsessivamente pelas possibilidades de decomposição dos planos que extraía dos motivos nas carrocerias, buscando a síntese visual de um dinamismo residual ali inevitavelmente contido. O que, em leitura expandida, poderia ser interpretado como uma pulsão incontida em apreender e traduzir visualmente as velocidades múltiplas que impulsionam cada fragmento da própria experiência da vida acelerada na metrópole, fato tão determinante no percurso poético do artista.


Saiba mais sobre os autores dos novos livros da coleção:

Guilherme Bueno

Possui graduação em Pintura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1998), mestrado em Artes Visuais pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2001) e doutorado em Artes Visuais pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2005). Foi membro da equipe editorial da revista Arte & Ensaio (UFRJ) e pesquisador da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Tem experiência na área de Artes, com ênfase em História da Arte, atuando principalmente nos seguintes temas: arte contemporânea no Brasil e no exterior, história da arte e teorias da arte.

Gabriela Motta

Nasceu em Pelotas, no Rio Grande do Sul, em 1975. Em 1994, concluiu o curso de publicidade e propaganda na Universidade do Vale do Rio dos Sinos, na cidade de São Leopoldo. Em 2004, foi curadora da mostra Contemporão, realizada em Porto Alegre. No ano de 2005, na mesma cidade, obteve o título de mestre em Artes Visuais na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Em 2006, conquistou o prêmio Fundo Municipal de Apoio à Produção Artística e Cultural de Porto Alegre. Nesse mesmo ano, realizou a curadoria das mostras Câmara Rasgada e Conjunto (1) e (2). Em 2007, publicou o livro Entre Olhares e Leituras: Uma Abordagem da Bienal do Mercosul, pela Editora Zouk. Vive e trabalha na capital gaúcha.


Tatiana da Costa Martins

Doutora em História Social da Cultura pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, na linha de pesquisa de História da Arte e Arquitetura (2009), com especialização em História da Arte e Arquitetura no Brasil (1999) e mestrado em História Social da Cultura pela mesma instituição (2002). Em 1997, graduou-se em Museologia pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro. Tem experiência na área de história, teoria e crítica da arte, estética e museologia (patrimônio, conservação e restauração).


Guy Amado


Doutorando em Arte Contemporânea pela Universidade de Coimbra, de Portugal. Em 2006, formou-se mestre em História e Teoria da Arte pela Escola Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo (USP) e, em 1995, graduou-se em Artes Plásticas pela Fundação Armando Alvares Penteado (Faap). Atua na área de Artes, com ênfase em crítica de arte. É pesquisador em arte contemporânea e curador independente.

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