quinta-feira, 24 de março de 2011

Um programa legal

João Carlos Lopes dos Santos
O TURISTA ACIDENTAL
     O grande Nelson Rodrigues detestava se afastar do Rio de Janeiro. Sabendo disso, para provocá-lo, os amigos perguntavam: «Como é, Nelson, vais à São Paulo ver o Fluminense jogar?» E ele, com sua voz inconfundível, respondia: «depois do Méier, começo a sentir saudades do Brasil». Para quem não sabe, o Méier é um tradicional bairro da zona norte, que dista cerca de 15 km do Centro do Rio de Janeiro.
     Vou defender a tese do Nelson, mesmo discordando dela, afinal, sobre alguma coisa tenho que discordar do gênio, até para conferir razão a ele, quando dizia que "toda unanimidade é burra".
     Ao contrário do Nelson, se pudesse, viveria viajando, até porque - não tenho dúvidas - o meu carma é administrar as dificuldades que me são impostas pelas circunstâncias que, por isso ou por aquilo, sempre me impedem de viajar. Mas uma coisa é certa, não morro sem conhecer Portugal, Itália, França e Espanha.
ABRINDO OS OLHOS
PARA A GUANABARA
     Sonhos à parte, vamos ao programa legal.
     Há cerca de uns dezenove anos, fiz uma fantástica programação de férias de meio de ano. Comecei a imaginar quantos estrangeiros se deslocam para conhecer os pontos turísticos do Rio de Janeiro: Corcovado; Pão de Açúcar; Corredor Cultural; Barra da Tijuca (hoje tão completa em entretenimentos) e Recreio dos Bandeirantes, com seus quase vinte quilômetros impolutos de praia e muito mais.
     Deduzi que, se era bom para os turistas, deveria também o ser para a minha família. Foi o que fizemos, um dia em cada ponto turístico do Rio. E lá estávamos nós, misturados aos japoneses, franceses, italianos, norte-americanos, espanhóis, ouvindo de tudo, menos o português. No que concerne ao passeio ao Corcovado, Pão de Açúcar e os demais pontos turísticos, não há porque aqui me alongar, todos conhecem ou imaginam a grandiosidade do passeio.
O ESPELHO DA ARTE
NO RIO DE JANEIRO
     Gostaria de falar do Corredor Cultural do Rio de Janeiro, um programa que, já naquela época, foi inesquecível. Poucos conhecem o Corredor Cultural. Localiza-se no Centro da cidade, onde se concentram os museus, vários centros culturais, a Biblioteca Nacional, o Arquivo Nacional, o Teatro Municipal, sem se falar do Clube Naval e do Clube Militar - que valem a pena ser visitados, tendo-se em vista não só o patrimônio arquitetônico como também artístico.
     Há também as igrejas que, independentemente da religião de cada um, devem ser vistas por todos que gostam de arte. Todo esse circuito pode ser feito a pé durante os dias da semana, no horário comercial, quando o Centro do Rio de Janeiro é relativamente seguro. É um corredor cultural democrático, pois o Centro é um lugar sem status social; todos que por ali transitam, de operários e estudantes a empresários e intelectuais, podem dele usufruir.
INFRAESTRUTURA
SEMPRE AJUDA
     Sempre que posso, curto o "pedaço". Morando ou vindo ao Rio de Janeiro, não deixem fazer o circuito cultural completo, pois creio que também vocês farão um passeio inesquecível. Há um serviço eficiente e barato: o Tour Cultural. Trata-se do transporte coletivo especial - microônibus com 30 lugares e ar condicionado - que faz a ligação entre os principais museus e espaços culturais do Centro da cidade.
     Procure o Centro de Atendimento ao Turista da Riotur (Alô, Rio-Turistas), localizado na Av. Princesa Isabel, 183-térreo, CEP 22011-010, no bairro do Leme, telefone (21) 2542-8080, que este lhe fornecerá, graciosamente, uma publicação atualizada.
     A propósito, em todas as cidades - do Brasil ou do exterior - por menor que sejam, encontra-se tesouros culturais e artísticos que merecem a sua atenção; é só procurar os órgãos municipais que cuidam do turismo das cidades por vocês visitadas, pois eles sempre têm à disposição informações sobre o roteiro cultural.
SANTO DE CASA NÃO
FAZ MILAGRE
     E você, já fez o circuito cultural da sua cidade? A realidade, nua e crua, é que os "bichos da terra", de todas as partes do mundo, não curtem o turismo de suas próprias cidades.
     Achei os programas inesquecíveis, porém, nunca mais voltei ao Corcovado e ao Pão de Açúcar. Com toda certeza, a maioria dos parisienses, também, não curtem as belezas da Cidade Luz, do alto dos 300 metros da Torre Eiffel. Quase ninguém dá valor ao que possui.
     Conheço vários cariocas que gostam de curtir os feriadões no Rio de Janeiro. Dizem que o Rio, nessas épocas, com a debandada geral, volta ter a tranqüilidade dos anos 60/70, a cidade fica vazia e a locomoção, estacionamento, cinemas, teatros, restaurantes da moda, tudo fica mais fácil.
O MUNDO BEM ALI
NA ESQUINA
     De fato, também não vejo muita graça nos deslocamentos dos feriadões, quando muitos se aventuram em viagens de gosto duvidoso - aquelas quando se vai para um "perto bem longe", ou seja, quando, para se percorrer uns cento e poucos quilômetros, é preciso enfrentar um engarrafamento de seis horas de estrada - na ida e, depois, na volta.
     É um autêntico "programa de índio": tomar banho de mar pela manhã e banhos de repelente para mosquito o resto do dia, já que, para água doce, em muitos lugares, não há adutora que comporte o inchaço dos grandes feriados.
     Quem sabe não seria melhor, nessas oportunidades, ficar na sua cidade, seja qual for, curtindo o que ela tem de bom? Mas o que ela têm de bom? Nós quando vamos aí na sua cidade - São Paulo, por exemplo - achamos um monte de coisas gostosas para fazer.

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